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Uma ponte para o passado

A Salvador/Itaparica é uma ponte para o passado, um gargalo para os portos da BTS e que deixará para os futuros governos e para nós baianos um grande ônus durante 35 ou 70 anos. Por Paulo Ormindo

Jornal A Tarde (04/04/2021) e disponível no site do autor.

Os navios não param de crescer. Quem poderia imaginar que as pequenas caravelas se transformariam em navios de 400m de comprimento? Não se fazem pontes em canais de navegação desde o final da década de 1930, quando foi inaugurado o Túnel Lincoln sob o Rio Hudson, em NY, com seus 2,4 km de comprimento, chegando hoje a 50 km de extensão, sob o Canal da Mancha (1994). Em canais mais largos tem sido adotada uma solução mista, ponte/túnel, como a da Baía de Chesapeake nos EUA (1964) e o Aqualine na Baía de Tóquio (1997). O mais novo deles é entre a Suécia e a Dinamarca (1999), no estreito de Oresund, para trens e carros.

Os chineses advertiram que já não passarão pela ponte quatro grandes navios, dois deles com 116 m de altura, pois a ponte terá apenas 90m no vão central (A Tarde 25/03/21). Estes são os primeiros navios da nova geração New Panamax para cargueiros de 13.000 contêineres. Há dentro da BTS cinco portos, onde não chegarão esses novos navios: Base Naval, Aratu, Temadre, Estação de Regaseificação e Estaleiro do Paraguaçu este impedido de fabricar e reparar plataformas de petróleo.

Visando o futuro, começou em janeiro a construção do túnel Fehmarnbelt, com 17,6 km, ligando a Alemanha à Dinamarca, que será inaugurado em 2029. A novidade é que ele não será escavado na rocha como os antigos, senão formado por 89 aduelas de concreto pré-fabricado medindo 217x42m ancoradas no fundo do mar. Esta poderia ser uma alternativa para a ligação SSA/Itaparica, não limitando a navegação? Sim, mas marginalizaria, do mesmo modo, o Recôncavo e provocaria os mesmos impactos na ilha e em Salvador, que serão atropeladas por 140.000 veículos/dia, em sua grande maioria demandando o Litoral Norte e o Nordeste.

O mais grave é que ela poderá inviabilizar o terminal da ferrovia transcontinental sonhada por Vasco Neto, por onde sairia a produção mineral e de grãos destinada à Europa do Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e do oeste brasileiro. Tenho defendido neste jornal a atualização desse projeto com a criação de um hubport em Salinas da Margarida, em águas abrigadas com 23 m de calado como o porto de Rotterdam, articulado à Envolvente da BTS, uma via bimodal veloz, usada como transporte metropolitano durante o dia e de carga à noite. Nenhum outro porto brasileiro apresenta tais condições. O de Santos está congestionado e tem calado de 13m, o de Açu, no Rio de Janeiro, é offshore e tem a Serra do Mar intransponível por trás.

A Salvador/Itaparica é uma ponte para o passado, um gargalo para os portos da BTS e que deixará para os futuros governos e para nós baianos um grande ônus durante 35 ou 70 anos. O que precisamos são ferrovias e hidrovias velozes de massa, como está sendo planejado para a Guanabara, e não o estrangulamento da baía e o afundamento de barcos com festa.


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