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Audiência pública discute situação do VLT do Subúrbio

Vereadores cobram mais transparência no processo após Governo do Estado dizer que pode cancelar contrato. Por Gil Santos


Publicado no Correio

Audiência pública sobre o VLT do Subúrbio. Crédito: Gil Santos/CORREIO

A situação do Veículo Leve de Transporte (VLT) do Subúrbio Ferroviário de Salvador foi motivo de uma audiência pública, nesta quinta-feira (3), na Câmara Municipal. Os vereadores pedem mais transparência no processo e vão elaborar uma carta aberta que será encaminhada ao Governo do Estado. A obra foi autorizada em 2019, mas pouco avançou. Um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontou 14 irregularidades e, na semana passada, o governo informou que estuda cancelar o contrato após investir R$ 57 milhões no projeto.


A audiência pública foi realizada no Centro de Cultura da Câmara, na Praça Municipal, com a presença de representantes de instituições públicas e da sociedade civil. O auditório ficou lotado. O vereador Cláudio Tinoco (União Brasil), propositor da audiência pública, disse que o espaço foi para promover o debate e cobrar mais clareza.


"Fizemos duas audiências no ano passado, que levaram à relevação das mudanças nas licitações, que surpreenderam até os órgãos de controle, com a mudança do modal e a mudança do edital. A gente revelou também o aditivo contratual. A audiência pública visa dar transparência, compartilhar com a sociedade e ouvir a sociedade. Agora tem o agravante que é a hipótese do cancelamento do contrato", disse.


A audiência começou com a apresentação detalhada do contrato de construção do VLT, e com a discussão sobre a mudança do modal feita pelo governo de um veículo leve sobre trilhos para uma estrutura usando pneus (monotrilho). O coordenador geral da Sociedade Nacional Movimento Trem de Ferro e do Projeto Ver de Trem, Gilson Vieira, apresentou um modelo de ligação férrea entre Salvador e Alagoinhas, e criticou o atual cenário.


“Foi um erro mudar o modal, trocar o modelo sobre trilhos para um modelo que vai usar pneus e cimento. Isso tira a característica cultural da nossa história e da memória. É um desrespeito com a população. Ficaram 14 mil pessoas sem trem, modelo que facilitava o transporte do produto de trabalho de pescadores e marisqueiras que por conta das características, do cheiro, é mais difícil transportar em ônibus”, afirmou.

Moradores do Subúrbio Ferroviário estiveram no auditório e assistiam a audiência. O líder comunitário do Lobato e radialista, Sulivan Santos, 43 anos, destacou os prejuízos desde que os trens foram desativados, em 13 de fevereiro de 2021.


“A tarifa do trem era R$ 0,50, e hoje pagamos R$ 4,90. Marisqueiras, pescadores, o pessoal que tinha comércios em volta das estações foram todos prejudicados. A saída do trem impactou negativamente na economia local, em relação a emprego e renda. Foi prometido o VLT e nós aceitamos porque era um modelo melhor, mas isso já tem três anos e as obras estão paradas”, disse.

Transparência


Essa é a terceira vez que os vereadores fazem uma audiência pública para discutir a situação do VLT do Subúrbio. Em fevereiro e, depois, em março de 2022, eles pediram explicações ao Governo do Estado sobre a mudança do modal de veículo sobre trilhos para monotrilho (uso de pneus), quanto aos valores empregados na obra que seguia parada e em relação ao cronograma de execução.


O último prazo informado era entregar o VLT no segundo semestre de 2024, mas o projeto sofreu mudanças. Em março de 2022, o valor do contrato foi reajustado pelo Governo do Estado. O documento assinado com a concessionária para a implantação e operação da Fase 1 do sistema foi de R$ 2,8 bilhões, quase o dobro de R$ 1,5 bilhão que havia sido divulgado no início do contrato.


Na ocasião, o governo informou que foi necessário um novo reajuste porque a empresa iria operar também a Fase 2. A conta ficou em R$ 5,2 bilhões. Além disso, o prazo de concessão foi ampliado e não foi divulgado o cronograma de execução das obras.


Uma auditoria do TCE apontou 14 irregularidades no contrato e atualmente o documento está sendo objeto de julgamento no Tribunal. Na semana passada, a Procuradoria Geral do Estado informou que estuda anular o contrato firmado com o consórcio Metrogreen Skyrail, controlado pela gigante chinesa BYD, responsável pela obra. O governo ainda não explicou o que acontecerá com os R$ 57 milhões já investidos.


O presidente da audiência informou que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e a Procuradoria Geral da União (PGE) foram convidadas, mas que não responderam. O TCE respondeu que reconhecia a importância do debate, mas que houve incompatibilidade de agenda, e a concessionária responsável pela obra afirmou que não teria condições de comparecer à audiência.


A Sedur e a PGE estão sendo procuradas pelo CORREIO desde a semana passada para informar sobre as condições do contrato e das obras do VLT, mas ainda não houve retorno.


Confira alguns dos pontos da discussão:


Dezembro de 2019 – O então governador Rui Costa (PT) assina a autorização para o início das obras do Veículo Leve de Transporte (VLT) em Salvador. A empresa contratada foi o consórcio Metrogreen Skyrail, controlado pela gigante chinesa BYD, por R$ 1,5 bilhão. A licitação tinha sido lançada em 2017. Foi anunciado que o modal teria 19,2 quilômetros de extensão e 21 estações. Com capacidade para transportar 172 mil usuários por dia, e que 600 mil pessoas seriam beneficiadas.


Fevereiro de 2021 – Depois de 160 anos em operação, os trens que faziam a ligação entre os bairros da Calçada e Paripe foram definitivamente aposentados. A última viagem ficou lotada de passageiros saudosos do modal. Cerca de 100 trabalhadores foram demitidos.


Março de 2022 - O valor do contrato para a construção do VLT foi reajustado pelo Governo do Estado. O documento assinado com a concessionária para a implantação e operação da Fase 1 do sistema foi de R$ 2,8 bilhões, quase o dobro do que havia sido divulgado. A empresa assumiu a operação também a Fase 2 e a conta pulou para R$ 5,2 bilhões. É anunciada a mudança de trilhos para pneus (monotrilhos);


Março de 2022 – Vereadores da Câmara Municipal de Salvador fazem uma audiência pública para cobrar mais transparência no processo, com os valores e com o prazo para execução da obra. Usuários e especialistas criticam as alterações feitas pelo governo.


Julho de 2023 – Auditoria do TCE aponta irregularidades no contrato e PGE diz que a parceria com o consórcio pode ser cancelada. O governo ainda não respondeu como ficará os R$ 57 milhões que já foram investidos no projeto e na obra, além dos R$ 100 milhões anunciados como aporte para a gigante chinesa, e quando o sistema estará em operação.

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