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Transporte por aplicativo em Salvador: realidade, desafios e impactos

  • Foto do escritor: ObMob Salvador
    ObMob Salvador
  • 13 de ago.
  • 4 min de leitura

O transporte por aplicativo em Salvador se tornou parte da mobilidade cotidiana da população soteropolitana; saiba agora a realidade, os desafios e caminhos possíveis sobre o uso desses aplicativos. Por Laraelen Oliveira


Publicado no AratuOn


Os aplicativos de transporte começaram a surgir no final da década de 2000, com destaque para o lançamento do Uber em 2009, em São Francisco, nos Estados Unidos/Foto: Divulgação/Uber
Os aplicativos de transporte começaram a surgir no final da década de 2000, com destaque para o lançamento do Uber em 2009, em São Francisco, nos Estados Unidos/Foto: Divulgação/Uber

Nos últimos anos, os aplicativos de transporte se tornaram parte essencial da mobilidade urbana em Salvador. Plataformas como Uber, 99 e InDrive ocupam um espaço crescente no cotidiano dos soteropolitanos, oferecendo alternativas ao transporte público em uma cidade marcada por desafios estruturais, longos deslocamentos e desigualdade no acesso à mobilidade. No entanto, a popularização desses serviços também escancara problemas antigos e cria novas demandas para a infraestrutura urbana, especialmente em áreas periféricas e de grande circulação.


Uber, 99, InDrive: quais apps funcionam na capital


Em Salvador, os principais serviços de transporte por aplicativo são Uber, 99 e InDrive, cada um com seu modelo de operação. Enquanto Uber e 99 trabalham com tarifas dinâmicas definidas pelas próprias plataformas, o InDrive se diferencia ao permitir que o usuário negocie diretamente com o motorista o valor da corrida.


Essa flexibilização, apesar de atrativa para alguns passageiros, pode gerar insegurança e instabilidade na prestação do serviço, uma vez que a ausência de padronização nas tarifas dificulta o controle de abusos e reduz a previsibilidade dos ganhos para os motoristas.


Diferença de tarifas e formas de pagamento


Os preços variam significativamente entre os aplicativos, principalmente em horários de pico ou em regiões de alta demanda. Uber e 99 utilizam algoritmos que reajustam os valores conforme o fluxo de solicitações, o que pode causar cobranças mais elevadas em momentos de necessidade, especialmente em dias chuvosos, feriados ou grandes eventos. 


Já o InDrive permite ao passageiro sugerir um valor, mas isso nem sempre é aceito pelos motoristas, o que pode gerar frustração ou atrasos. Todos os apps oferecem pagamento via cartão, dinheiro ou carteira digital, mas a preferência por dinheiro ainda é forte, especialmente em áreas periféricas, onde parte da população não tem acesso a serviços bancários digitais.


Problemas enfrentados por passageiros e motoristas


A falta de infraestrutura adequada para embarque e desembarque é uma realidade na capital baiana. Como aponta o urbanista Daniel Caribé, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA, a cidade sofre com sérias deficiências de microacessibilidade,ou seja, o trajeto entre o ponto de embarque e o destino final, como portas de estabelecimentos, que muitas vezes não conta com calçadas acessíveis, sinalização ou áreas de espera para motoristas.


Os shoppings não oferecem espaços dedicados para Uber/99; motoristas param em áreas de desembarque, calçadas ou vias próximas/Foto: Reprodução
Os shoppings não oferecem espaços dedicados para Uber/99; motoristas param em áreas de desembarque, calçadas ou vias próximas/Foto: Reprodução

“Locais como shoppings e hospitais não têm estrutura apropriada para receber os aplicativos, o que gera engarrafamentos e disputas por espaço”, explica Caribé. Além disso, ele aponta que a Prefeitura de Salvador não exige das empresas privadas e plataformas digitais a devida adaptação de infraestrutura para o volume atual de veículos e passageiros transportados via app, o que intensifica a sobrecarga das vias públicas e afeta negativamente o planejamento urbano.


Os desafios de embarque e desembarque em serviços de apps como Uber e 99 incluem questões de regulamentação, segurança de passageiros e organização viária/Foto: Reprodução
Os desafios de embarque e desembarque em serviços de apps como Uber e 99 incluem questões de regulamentação, segurança de passageiros e organização viária/Foto: Reprodução

A insegurança pública também é um fator relevante. Em bairros como Pau da Lima, motoristas relatam medo de assaltos e evitam certas rotas após determinados horários. Segundo Caribé, “os motoristas e passageiros acabam pagando pela ausência de planejamento urbano e políticas de segurança eficazes”. Além disso, muitos motoristas enfrentam jornadas longas, baixa remuneração e falta de apoio das plataformas em situações de risco ou conflito.


Alternativas como mototáxi e apps locais


Para fugir do alto custo ou da indisponibilidade dos grandes apps, muitos soteropolitanos recorrem a mototáxis, ainda comuns em regiões periféricas, e a aplicativos locais, como o SityMob. Essas alternativas, embora mais acessíveis, ainda enfrentam falta de regulamentação e oferecem pouca proteção jurídica para usuários e trabalhadores. O mototáxi, apesar de eficiente para deslocamentos curtos, muitas vezes opera na informalidade, sem equipamentos de segurança adequados ou fiscalização de tarifas.


Mobilidade em Salvador: veja como os apps influenciam o trânsito


O crescimento da mobilidade por aplicativo impacta diretamente o trânsito em Salvador. Para Daniel Caribé, a cidade precisa “repensar o paradigma da mobilidade”, investindo em transporte coletivo de qualidade, infraestrutura para pedestres e ciclistas, e regulação adequada dos serviços por app. A ausência de integração entre os diferentes modos de transporte cria um cenário fragmentado, no qual os aplicativos ocupam um papel que deveria ser cumprido pelo transporte público eficiente e acessível.


Motoristas já foram vítimas de sequestros-relâmpago, em que criminosos usam o aplicativo para atrair a vítima/Foto: Reprodução 
Motoristas já foram vítimas de sequestros-relâmpago, em que criminosos usam o aplicativo para atrair a vítima/Foto: Reprodução 

Ele defende a criação de um Fundo de Mobilidade Urbana, financiado com uma contribuição direta das plataformas digitais, e não dos motoristas ou passageiros, como forma de compensar o uso intensivo das vias públicas. “As empresas lucram milhões, mas não contribuem proporcionalmente com a cidade”, ressalta. A proposta inclui ainda a exigência de relatórios periódicos sobre rotas, fluxo de veículos e incidentes, para que os dados possam embasar políticas públicas eficazes.


Caribé também destaca que o transporte por aplicativo deve ser articulado com outras estratégias de deslocamento. “Não é aceitável que moradores de bairros como Pau da Lima, densamente povoados e localizados no coração da cidade, ainda precisem gastar tanto com apps por falta de ônibus eficientes”, critica. A longo prazo, ele sugere que Salvador adote um modelo de mobilidade urbana sustentável, priorizando o transporte coletivo e a equidade no acesso ao deslocamento, com foco em justiça social e ambiental.

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