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A ponte do retrocesso

Atualizado: 14 de nov. de 2022

Sem prever faixas para bicicletas e transporte coletivo, a Ponte Salvador-Itaparica é um verdadeiro atraso urbanístico, ambiental e social. por ObMob Salvador



O ObMob Salvador, juntamente com o Coletivo Mobicidade Salvador, vem acompanhando e debatendo o tema da mobilidade em diversos espaços e eventos, como as audiências públicas do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador e as escutas técnicas, além dos eventos e audiências referentes ao Plano de Mobilidade Urbana de Salvador (PlanMob).


Acompanhamos o projeto da Ponte Salvador-Itaparica desde 2019, com muita preocupação. Participamos da audiência pública presencial com o tema Mobilidade referente ao Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) da Região Metropolitana de Salvador, realizada pelo Governo do Estado da Bahia em fevereiro de 2020. Na ocasião, reiteramos nossa posição de que, caso a Ponte viesse a ser implantada, seria fundamental contemplar pedestres, ciclistas, faixas exclusivas para ônibus, dentre outras questões de acessibilidade.


Oficina de Mobilidade - Elaboração PDUI (Fevereiro/2020)


Pelo que podemos observar em uma mensagem que está circulando nas redes sociais acerca da última reunião com o professor Paulo Henrique, diretor técnico da Ponte Salvador-Itaparica, o projeto será, de fato, exclusivo para veículos motorizados. Destacamos dois pontos que comprovam isso: 1) não há previsão de ciclovia na Ponte e 2) bicicletas só transitarão pela Ponte se for criado um veículo adaptado. A interdição das bicicletas é fundamentada, pelo diretor técnico, no custo: seriam necessários mais R$500 milhões para a construção de ciclovias segregadas.


Caberia então perguntar ao professor Paulo Henrique, ao Governo do Estado da Bahia e aos demais responsáveis pelo projeto: quanto está sendo gasto para construir cada faixa da ponte para veículos individuais motorizados (a previsão é de pelo menos 6 faixas) e qual o montante gasto com a segurança desses veículos? Além disso, os responsáveis devem informar a fonte dos dados utilizados para defender a tese de que a demanda de travessia de bicicletas pela ponte seria baixa, não justificando, assim, o investimento.


Ora, já é do conhecimento de todo urbanista realmente atualizado, e preocupado de fato com a criação de cidades sustentáveis e inclusivas, o sucesso dos processos de indução ao uso da bicicleta que ocorreram em diversas partes do mundo, como na Colômbia, e que corroboram a máxima "construa e elas (as bicicletas) virão" (Build and they will come). Bastaria retirar uma das faixas dedicadas aos motorizados e revertê-las para as bicicletas, com baixíssimo impacto no projeto, para que o cicloviário fosse contemplado.


Além disso, o projeto da Ponte Salvador-Itaparica continua não prevendo faixas exclusivas para ônibus ou qualquer tipo de sistema de transporte coletivo. Ou seja, sem bicicletas e sem transporte coletivo, a Ponte é, também nesse âmbito, um verdadeiro atraso urbanístico, ambiental e social, desconsiderando a PNMU (Política Nacional de Mobilidade Urbana, lei n°12.587) que prioriza mobilidade ativa e transporte coletivo, indo na contra-mão das intervenções que vêm acontecendo em vários locais do mundo, onde são empreendidos esforços para incentivar uma transição modal e da matriz energética, superando o poluente transporte individual motorizado.


Revela-se aqui mais um capítulo da mentalidade arcaica guiada pelo modelo rodoviarista, sem uma visão ampliada de acessibilidade. Perde-se a oportunidade de estimular viagens Salvador-Itaparica por modos que trazem baixíssimo impacto ao meio ambiente e à sociedade e que demandam menos recursos da Administração Pública.


Talvez seja o tipo de contrato, uma Parceria Público-Privada (PPP), o motivo da exclusão dos modais ativos e coletivos do projeto da Ponte Salvador-Itaparica. A cobrança de tarifa dos veículos individuais motorizados servirá para amortizar o prejuízo bilionário, sendo necessário, nesse modelo de negócios, inibir outras formas de uso, enquanto deveríamos estar fazendo o oposto.


+ Quer conhecer mais sobre a Ponte Salvador-Itaparica? Então, acesse nosso acervo e se informe mais sobre esta importante intervenção que trará impactos para toda a região metropolitana de Salvador, Recôncavo e Baixo Sul.







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