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Prevista para 2022, expansão do metrô até a Barra não tem data para começar

'Eu quero, até o fim do meu governo, se Deus quiser, pelo menos, entregar mais uma estação: a do Campo Grande', disse Rui Costa em dezembro de 2019. Por Matheus Caldas


Publicado no Aratu Online

Em 2019, o então governador da Bahia, Rui Costa (PT), retomou a ideia de expandir o metrô de Salvador até a Barra, que havia sido descartada quatro anos antes. Na oportunidade, ele encomendou estudos topográficos, geotécnicos e sondagens a fim de avaliar a viabilidade da obra. Em 2023, no entanto, o processo segue travado e com acesso às informações vetado à imprensa pelo Governo do Estado – o que é criticado por dois pesquisadores consultados pelo Aratu On, que consideram a ausência de transparência prejudicial para a discussão dos impactos da obra.


Em uma edição do Papo Correria, antigo programa institucional do governo, Rui prometeu que tentaria entregar a obra até o fim de 2022, ou pelo menos, uma estação no Campo Grande, primeira etapa da expansão até a Barra. “Eu quero, até o fim do meu governo, se Deus quiser, pelo menos, entregar mais uma estação: a do Campo Grande”, disse, em dezembro de 2019 (veja abaixo).

Um ano depois, Rui autorizou a realização de estudos de demanda. A empresa contratada foi a Oficina Consultores, sob custo de R$ 197 mil reais, conforme dados disponibilizados no Portal da Transparência do Estado. A análise foi concluída em agosto de 2021. O Aratu On pediu à empresa acesso ao estudo, mas a direção informou que apenas o Governo do Estado poderia liberá-lo. Procurada, a Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), responsável pelo contrato, negou o acesso ao conteúdo e também indicou que não havia fontes institucionais na autarquia para repercutir o tema.


Em nota, a CTB pontuou que “a expansão até a Barra está em fase de estudos para definição do traçado com as estações e captação de recursos para lançamento da licitação”. Nenhum prazo, contudo, foi dado para término do processo. A Companhia assegura que “também estuda as mudanças necessárias nas vias de acesso ao modal, buscando uma solução sem ônus para moradores e empresários da região”.


Ainda de acordo com a autarquia, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur), “o projeto é complexo, envolve uma multiplicidade de atores e agentes, é formado por diversas etapas e profundos estudos, a exemplo de viabilidade técnica e econômica, estudo de traçado, localização das estações e terminais, além de análises detalhadas nas áreas urbanísticas, geológicas e topográficas, tendo atenção máxima às comunidades no seu entorno, considerando impactos como os das desapropriações, por exemplo.”

O Aratu On também procurou a secretária titular da Sedur, Jusmari Oliveira, que, por meio da assessoria de imprensa, reiterou que “o trecho continua em estudo” e que “não há ainda previsão” para início das intervenções.


CRÍTICAS


Para o arquiteto e urbanista Franz Hecher é “momento de pensar numa discussão mais ampla com a sociedade”. “Falta transparência, mas noto que o governo também está perdendo a oportunidade de fortalecer o apoio à expansão do metrô, que teria grande apoio popular e traria inúmeros benefícios à cidade, à economia e no acesso das pessoas à cultura”, analisa o especialista, graduado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), autor do TCC que inclui projeto 3D para construção de uma estação no Campo Grande.

Ele defende que a sociedade precisa participar do processo de elaboração do plano. “Enquanto o planejamento e as tomadas de decisão estiverem nas mãos de quem não utiliza o transporte público, não haverá melhorias efetivas”, alerta.


A opinião é compartilhada por Lucas Lopez, observador dos sistemas de alta capacidade da Região Metropolitana de Salvador no Observatório da Mobilidade de Salvador (ObMob), coletivo formado por ativistas de temas relacionados à mobilidade.


“A transparência não é opcional. O Estatuto das Cidades traz a gestão democrática como diretriz para o planejamento das cidades. Se existisse mais transparência, participação social, por exemplo, através de conselhos, como um conselho municipal ou conselho de mobilidade, haveria um debate mais aprofundado e qualificado sobre o tema”, critica.

Lopez e Hecher dizem não ter conhecimento sobre consulta do Governo do Estado a estudiosos do urbanismo soteropolitano.


“Em relação ao trecho Lapa-Barra, nem eu nem os colegas do Observatório de Mobilidade de Salvador estamos cientes de qualquer consulta com os coletivos e sociedade civil”, diz Lopez.

“Até o momento, todas as informações que encontrei sobre o tema foram através de pesquisa”, acrescenta Hecher.


Apesar das pontuações, ambos creem que a expansão do modal até outros bairros do Centro, para além de Lapa e Campo da Pólvora, podem ser positivas para a população.

“O metrô teria papel fundamental de garantir um deslocamento rápido e facilitado, sem retenções e com potencial de atrair ainda mais passageiros para o transporte coletivo (algo que os ônibus não conseguem)”, projeta Hecher.


Na visão de Cortez, a expansão beneficiaria a capital e cidades da Região Metropolitana. “Abre uma série de oportunidades aos trabalhadores dessas regiões, incentiva o adensamento das zonas residenciais, uso de transporte público e intermodalismo (exemplo: integração metrô-bicicletas), desestimulando o uso de transporte individual motorizado”, analisa


O QUE SE SABE ATÉ AGORA?


As primeiras licitações para construção do metrô ocorreram em 1997. À época, o modal seria construído pela Prefeitura. As obras começaram, a passos lentos, em 2000. Em 2013, a gestão foi transferida para o Governo do Estado, que inaugurou em 2014 a estrutura para utilização durante a Copa do Mundo. Portanto, foram 14 anos até o equipamento ficar pronto.


A ideia de levar o metrô até a Barra já existia, mas, em 2015, foi descartada no segundo termo aditivo do contrato entre a Sedur e a CCR Metrô, concessionária do metrô soteropolitano. O documento previa estações na Barra e na Pituba. A segunda foi descartada por conta da construção do BRT pela Prefeitura (veja abaixo).

Como os estudos encomendados pela administração Rui Costa ainda não foram detalhados à sociedade civil, há informações embrionárias sobre o provável traçado da expansão do modal até a Barra. Denominada de “Expansão Sul”, a etapa de incremento tem, até o momento, duas alternativas.


Na primeira, seriam três estações subterrâneas que sairiam da Lapa: Campo Grande, Graça e Barra (veja abaixo).

Na segunda, seriam quatro paradas elevadas: Garcia, Federação/Hospital Santo Amaro, Calabar e Barra.

A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) elaborou um plano que estima que mais de 87 mil pessoas seriam impactadas em Salvador e em Lauro de Freitas por conta da expansão. O projeto, contudo, é baseado em dados do censo demográfico de 2010. Desta forma, a possibilidade é que ainda mais pessoas possam sentir os efeitos do metrô na região.


ATUALIDADE


O metrô soteropolitano possui, atualmente, duas linhas. A primeira abrange as estações Lapa, Campo da Pólvora, Brotas, Bonocô, Retiro e Bom Juá. A segunda tem as seguintes estações: Acesso Norte, Detran, Rodoviária, Pernambués, Imbuí, CAB, Pituaçu, Flamboyant, Tamburugy, Bairro da Paz, Mussurunga e Aeroporto.


A Linha 1 está prestes a ganhar mais duas novas estações: Brasilgás e Águas Claras. Este trecho, com 5 km de extensão, com saída da Estação Pirajá, estava previsto para operar a partir deste mês. O governo, no entanto, atualizou na última segunda-feira (29/5) a projeção. Desta forma, o empreendimento deve ser inaugurado em julho.

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