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Assaltos a ônibus assustam população de Salvador

Cidadãos que dependem do transporte público relatam a experiência de insegurança cotidiana, embora Secretaria de Segurança Pública afirme que houve redução no número de assaltos a ônibus. Por Gilberto Barbosa, Leonardo Oliveira e Cesar Oliveira


Os assaltos a ônibus são uma constante e assustam a população de Salvador que depende do transporte público para seguir sua rotina. Pode ser a caminho do trabalho, de casa, da faculdade. Independente do horário, os moradores da capital baiana estão expostos ao perigo. É o caso de Luiz Henrique, professor de história de 44 anos que vivenciou essa situação duas vezes.

“Eu fui assaltado no trajeto Plataforma/Pituba. Quatro assaltantes entraram no ônibus por volta da 1h30 da tarde. Eles entraram num ponto da Avenida San Martin e saquearam a mim e mais algumas pessoas que estavam sentadas no fundo do ônibus, saltando no ponto seguinte”, conta.

O modus operandi dos assaltantes é de embarcar, anunciar o roubo e saquear os passageiros. A atitude agressiva aterroriza os cidadãos. “Eles xingavam todas as pessoas, diziam para as pessoas não olharem para eles e se não dessem os celulares, eles iriam matá-las. Eram sempre assim, palavras bem agressivas”, comenta Luiz.

Driele Silva, estudante de pedagogia, é mais uma vítima desses truculentos assaltos, desta vez, de manhã cedo, indo para a universidade.

“As pessoas ficaram assustadas. Uma mulher começou a chorar. Mas, de fato, todo mundo ficou em choque, parado, e ele puxando os celulares, fones. Não houve nenhum tipo de levante, de alguém tentando confrontar. Ficou todos em choque, ninguém imaginando aquela situação. Era de manhã cedo ainda, umas sete horas. Eu estava indo para a faculdade”, conta.

Esse entendimento de agressividade não é só fruto do cidadão comum. O depoimento é corroborado por quem trabalha na retenção desses crimes. Denilson Neves, policial civil, vê, com o passar do tempo, uma mudança de comportamento dos criminosos que antes visavam os cobradores. Devido às mudanças como a solicitação das câmeras, dos cartões, dos cofres fechados dentro dos ônibus, o cobrador passou a colocar o dinheiro dentro desses dispositivos, além da substituição pelo cartão, o que diminuiu a circulação das cédulas dentro do ônibus.

“Isso fez com que aqueles que são praticantes dos crimes mudassem também suas atitudes. Hoje, o criminoso entra no ônibus já com o objetivo de subtrair aquilo que os passageiros têm. É o famoso arrastão interno do ônibus. Vai sempre dois, um com uma sacola e outro com a arma de fogo ameaçando subtrair celulares, cartão de crédito, dinheiro e qualquer coisa de valor que possa ser negociado no mercado paralelo para essas pessoas. Sem dúvida, a forma de assalto a ônibus se tornou hoje diferente”, comenta.

Estratégias ante a insegurança

Com o sentimento de insegurança que permeia o dia a dia do cidadão, cabe a adoção de estratégias para que seja subtraído o menos possível nas situações de assaltos. Exemplo disso, é a tática do “celular do ladrão”, no qual o indivíduo possui um celular que é entregue ao criminoso ao invés do aparelho principal. Tal estratégia é utilizada por Luiz Henrique, por exemplo.

“Eu levava dois celulares na verdade. Um celular quebrado, mas que estava em bom estado, e o celular que eu usava. Para não perder o celular que eu usava, dei o quebrado para o bandido, mas tiveram pessoas que perderam celulares muito bons na época. Eu portava dois celulares exatamente para quando chegasse um momento de assalto. Até hoje eu tenho esse hábito. Eu levo um celular mais inferior quando eu saio com um celular bom, mas na maioria das vezes eu saio com o celular inferior mesmo, porque se pedir eu dou. O prejuízo não é tão grande. O celular inferior que eu comprei custa R$500. O meu celular de verdade custou R$1.300.”

À esquerda o celular de uso pessoal. À direita o aparelho utilizado para ser entregue em caso de assalto (Foto: Cesar Oliveira)

A estudante Driele utilizou de outro artifício para não perder o seu bem, visto que os assaltantes tinham uma forma de revistar os passageiros.

“Teve uma época que eu colocava dentro do caderno, porque eles procuravam nos bolsos. Eu já tinha visto acontecer e então eu colocava dentro do caderno no silencioso. Nunca deixei desligado, mas sempre no silencioso. Nem no vibra, só no silencioso”, disse.

Os frequentes roubos traumatizam aqueles que entram no ônibus, no qual há uma mudança de comportamento que também funciona como estratégia. É o que aconteceu com Driele após ser uma vítima.

“Ficou o susto. O cuidado é que agora não consigo entrar no ônibus e não ficar olhando se alguém pode estar com algum comportamento diferente, se tem alguma atitude suspeita, alguma movimentação. Eu já entro no ônibus nesse pânico, de olhar ao redor, de perceber, imaginar se pode acontecer alguma coisa. Não só dentro do ônibus, mas também de quem vai entrar. Se o motorista abre a porta traseira para alguém entrar, vira um pânico. A pessoa não consegue mais pegar o ônibus em paz”, relata.

O mesmo acontece com Perivaldo Oliveira, guarda municipal que já foi assaltado na travessia Salvador-Candeias. “Até hoje eu me vejo o tempo todo observando quem sobe, desce ou está no ônibus. Já desci de vários ônibus com medo dessa situação. Se eu me sentir fragilizado, com medo, posso até estar julgando pessoas, mas eu desço”, afirma.

Redução x Subnotificação

Dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) indicam que entre os meses de janeiro e setembro de 2021 foram registradas 1001 ocorrências de roubos a coletivos em Salvador. No mesmo período do ano anterior, a SSP registrou 1280 casos na cidade. Os números, segundo a secretaria, indicam uma redução de 21,8% nos casos de assaltos a ônibus na cidade. Outro dado indicado pela secretaria em novembro de 2021 aponta para uma redução de 22,6% em relação ao mesmo período de 2020. No entanto, essa diminuição pode estar associada a um conjunto de fatores, tais como a não realização do ciclo de festas populares do verão baiano, a não realização do carnaval, redução da frota de ônibus em virtude das medidas sanitárias para conter o covid-19 e ações específicas de repressão por parte da polícia a assalto de coletivos.

Outro aspecto a ser considerado é o aumento da subnotificação desse tipo de crime, pois muitas das pessoas, sobretudo aquelas assaltadas mais de uma vez, desacreditam das ações de combate a roubos de coletivos. Perivaldo passou por essa situação ao ser assaltado a caminho do trabalho.

“O motorista perguntou aos passageiros, pois tem uma política de conduta que eles adotam, no qual se a maioria for a favor de ir para a delegacia dar queixa, o carro vai. Como a maioria das pessoas no ônibus preferiu não dar queixa, porque tem aquele disse me disse que não vai acontecer nada ou não vai dar em nada, ficou resolvido que não prestaria queixa. Quem quisesse dar queixa, seria particularmente.”

O motorista Alex conta que a média divulgada de ocorrências não reflete a realidade. Segundo ele, o número de assaltos a coletivos por dia é maior, no entanto, grande parte dos passageiros prefere não ir para a delegacia prestar queixa. Os motivos variam indo da descrença em reaver o que foi roubado até o receio de se atrasar para algum compromisso.


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