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8 de março: através de teus olhares nos coletivos soteropolitanos

Atualizado: 21 de mar.

Como trabalhadoras, servidoras em diversos espaços, precisamos de condições de mobilidade mais dignas. Por algumas mulheres do curso de Urbanismo (Uneb)


Companheira mulher, hoje também acordou antes das 5h...?

...talvez, terminaste de lavar aquilo que ficou na pia ontem à noite...?

Empurraste crianças ou jovens para sair sem atrasos?

Também garantiste o prato que eles, ou aqueles que tu cuidas cotidianamente, também por teu esforço eles comeram hoje?


Tudo isso, antes de chegar ao ponto e começar a te acotovelar com outras pessoas

maioritariamente parecidas a ti, tentando garantir um lugar para sentar e chegar menos cansada à alguma parte da cidade próxima da Pituba, onde pessoas que apenas acordam com a tua chegada, ou estejam esperando por teu serviço, quiçá querendo ver teu sorriso no atendimento, ou impecável aquela pia deixada na bagunça da noite, ou tua tarefa adiantada, inclusive a mesa posta, ou o chão reluzente...


Talvez, também, nunca leias isto que se escreve a partir de teu olhar para mulheres que

cotidianamente fazem seu dia similar ao teu, dentro de um ônibus que transita do denominado miolo de Salvador ao Iguatemi, ou de bairros populares aos bairros nobres.


E, talvez, hoje por ser uma sexta-feira, nem conseguiste lugar para sentar... te vemos em pé, com os paradoxos no teu olhar, agradecendo por ter um emprego com ou sem carteira assinada; por ter deixado as coisas adiantadas para os outros e para que, quando voltes com teus cansaços nas costas, ombros, pernas… terminar com mais alívio o dia! Amanhã sábado, o transporte para ir e voltar das áreas como as da Pituba se complica fica mais demorado, parece que diminui a frota...


Te elevas em reflexões na lentidão dos trancões… observas pela janela a quantidade de carros disputando ansiosamente os centímetros na via com suas buzinas e som dos motores...


Por que tudo isso…?


Ficas imaginando perder o tempo de integração… tudo ficou mais complicado para quem mora no miolo, desde o final do 2023, aos poucos acompanhamos mudanças feitas pela prefeitura para obrigar a usar através de quilométricas passarelas, o tal BRT: já decoraste o nome! Também ouviste da boca de familiares que usavam o antigo trem de subúrbio que o tal VLT, continua em ideias e conversas com os chinos …ah e pela rádio ou tv, também sabes que pelos bairros nobres haverá direto para o aeroporto um tal BRS, que porque é em inglês, Bus Rapid System!


Enquanto isso, todas vimos como ficou sem considerar tua mobilidade reduzida e teu cansaço cotidiano! Mas, como boa baiana, com a solidariedade (de alguns motoristas) encontraste o jeitinho de descer embaixo do viaduto ou de fazer do ponto do Detran um ponto informal de transbordo ou integração, mesmo que às vezes pelo or cansaço cotidiano ou dos anos de vida, ou visibilidades reduzidas, terminas perdendo um dos poucos ônibus que te aproximam algo mais para chegar aos teus compromissos laborais. Isso, às vezes, após vivências que marcam a nossa vulnerabilidade como mulheres dentro dos coletivos quando há alguns encostos nos nossos corpos ou quando há assaltos e levam nossos pertences. E, ainda, considerando que outros motoristas de ônibus nem querem saber que já temos direito (após 21h) a pedir para descer fora dos pontos...!


Ainda no ônibus, olhas para os lados, a maioria na tua volta em pé são mulheres, pois os homens parecem ter ido para as motos, quem pode também pegou carro ou passou a sonhar com essa possibilidade… seria isso o que a prefeitura queria?


Ao teu lado, algumas dessas mulheres, colegas, conhecidas na coincidência diária das subidas e descidas dos percursos, com algumas trocas além de olhares solidários, comentários, às vezes brincadeiras, e até lamentos por atrasos nos engarrafamentos, onde percebemos claramente que os percursos do ônibus são mais cumpridos pelos rodeios obrigatórios para passar nos shoppings e facilitar a velocidade dos veículos particulares! Enquanto, a localização dos pontos de quem depende de ônibus, pouco facilita para quem tem que caminhar e seguir caminhando.


Já ouviste alguma vez, no mesmo ônibus, na voz de uma jovem que estuda urbanismo comentar que tristemente nesta cidade de Oxum, o transporte coletivo, ou seja, o ônibus não é prioridade no sistema viário nem nas suas recentes obras, onde se continua investindo, priorizando e facilitando os percursos de quem anda motorizado.


Desces e andas quarteirões e quarteirões, observas, continuas a fazer reflexões: quantas obras para arrumar calçadas que mal permitiam andar pela cidade, como as que se veem desde as janelas do ônibus na Silveira Martins, e justo aquelas por onde vás continuam quebradas, talvez problemas com empreiteiras...? Talvez complicados interesses no papel dos órgãos públicos…?


Desde que apareceu o metrô, tens ouvido falar muito em INTEGRAÇÃO, o cartão na mão até facilitou tua entrada, mas a “moda” das quilométricas passarelas tem ajudado é a buscar criativas alternativas... agradeces por isso e te perguntas que dia é hoje?


Ah sim! dizem que 8 de março é o dia da mulher. Isto porque faz tempo, lá em um país que não fala nossa língua, foram mortas mulheres que estavam dentro de uma fábrica brigando por seus salários. E ficas pensando, então, por que querem dar apenas parabéns ou talvez uma flor...?


Por que QUEM pode ajudar a melhorar nosso cansaço diário só quer fazer obra pela obra... ou garantir apenas lucro para quem já tem...? ..e claro conforto para quem anda sentado em seu automóvel…?


Então, será que em um dia como o 8 de março, ou qualquer dia, como mulheres podemos juntar nossas mãos e falar para os órgãos da prefeitura que reconheçam NOSSO DIREITO e suas responsabilidades públicas, pois, como trabalhadoras, servidoras em diversos espaços precisamos de condições de mobilidade mais dignas...!?


Até quando as pessoas que moram nos bairros do miolo e do subúrbio ficarão apenas olhando mudar a cidade nas facilidades do ir e vir nas paisagens dos que moram nos bairros nobres e tem veículos particulares?


Até quando, nessas áreas, a qualidade da mobilidade é decorrente apenas de acordos com

empresários, inclusive do denominado transporte complementar?


Pelo DIREITO À CIDADE…!

...e a garantia de um sistema de transporte público digno com mobilidade pensada para todas!

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