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Trens do subúrbio de Salvador resistem à degradação

Com dias contados, os trens do subúrbio levam 15 mil pessoas por dia. Por Priscila Machado


Publicado no jornal A Tarde

Sofá descartado na margem da linha férrea (Foto: Marco Aurélio Martins | Ag. A TARDE)

Às 5h45, enquanto muita gente ainda dorme, Wilson Cruz, 53, realiza a primeira viagem do dia. Aos olhos do condutor de trens do subúrbio ferroviário de Salvador, na profissão há 26 anos, o trajeto de 13 km entre a Calçada e Paripe já não oferece novidade.

Quem faz o percurso pela primeira vez, no entanto, impressiona-se com o que vê. O passeio transita entre o bucólico e a degradação.

O conserto de barcos na praia, o cozimento a lenha à margem dos trilhos e a vista da baía conferem o clima agradável. Por outro lado, construções precárias, lixo amontoado, desmanche de carros, moradores de rua e a poluição do mar alertam para os problemas.

Na plataforma de embarque da Calçada, uma amostra do maria fumaça figura entre os novos trens, já não tão novos assim. "Esse aqui é o melhor transporte do mundo. Não tem quebra-molas, engarrafamento ou poluição. Mas eles preferem o rodoviário. Não dá para entender!", observa o maquinista, como é popularmente chamado.

Wilson Cruz conta que entrou no ramo por acaso: "Estava a caminho de uma entrevista de emprego para uma cervejaria, me atrasei e perdi a vaga. Então, vi no jornal A TARDE que havia um concurso para a área. E aqui estou".

Degradação

Em todo o trajeto, principalmente no trecho até o Lobato, a linha férrea acumula muito entulho. Eletrodomésticos velhos, como fogão, sofá, estante, TV e até geladeira são descartados na margem da ferrovia.

Ao lado do trilho, um monte de barro se acumula, segundo Wilson, oriundo de escavações para a construção de casas. "O lixo é um problema. Às vezes, engancha no trem, tem que parar a composição para fazer manutenção. O que prejudica os usuários", conta.

O coordenador de operações da Companhia de Transporte da Bahia (CTB), Al Mello, diz que o acúmulo deve-se à falta de consciência dos moradores do entorno. "Eles sabem que, a cada 15 dias, fazemos mutirão com o trem, recolhendo lixo. Por isso, atiram os sacos da frente de casa. Nem se dão ao trabalho de procurar o ponto correto de descarte", diz.

"Não somos uma empresa de limpeza, mas de transporte. Não temos condição nem é nossa responsabilidade recolher resíduos diariamente", complementa.

Outro problema, relatado pelo passageiro Antônio César, 50, é a insegurança. O aposentado utiliza o trem três vezes por semana para ir ao centro de fisioterapia das Obras Sociais Irmã Dulce, no largo de Roma.

Ele conta que, há dois meses, foi vítima de assalto dentro de um dos vagões, por volta das 15h. "Dois pivetes entraram e fizeram um arrastão. Um rapaz foi agredido. Não havia segurança. Se ocorre isso à tarde, imagina à noite", relata.

Al Mello afirma não ter informações sobre a ocorrência de assaltos no TUE (Trem Unidade Elétrica). "É muito difícil ocorrer, porque dispomos de segurança em cada uma das dez estações e em cada trem", diz.

Capacidade

O Sistema de Trens do Subúrbio transporta 15 mil pessoas por dia, com duas composições. Se contasse com quatro trens em circulação, 50 mil passageiros seriam beneficiados diariamente.

O intervalo de espera é 40 minutos, mas, frequentemente, um dos veículos é tirado de circulação e o tempo aumenta para uma hora.

Sem se identificar, funcionários queixaram-se de três trens reformados, que permanecem no galpão sem nunca ter sido utilizados. O coordenador de operações da CTB explica que os TUEs foram reformados, por uma empresa no Rio de Janeiro, mas continuaram com defeito. "O caso está na Justiça desde o ano passado. A empresa foi considerada inadimplente", justifica.

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