Se o motorista estivesse a 40km/h, provavelmente teria conseguido frear e não mataria João. Por Marcella Marconi
Mais um ciclista morto em Salvador. João Evangelista, 67 anos. Andava habitualmente pela Av. Luis Eduardo Magalhães. Sua bike e capacetes verdes fluorescentes certamente chamavam a atenção, mas pelo visto não o suficiente para o motorista que o atropelou. Matou e fugiu - medo de ser linchado, disse. Mas não teve medo de andar em velocidade superior à permitida: se estivesse a 40km/h, seguramente o choque não seria tão violento - e fatal.
Sangue. Um rastro de sangue no asfalto mostra que João sofreu um impacto que lhe tirou qualquer chance de sobrevivência. Se o motorista estivesse a 40km/h, provavelmente teria conseguido frear e não mataria João.
Outras coisas nos colocam em risco todos os dias nas ruas. Excesso de velocidade, álcool e direção, vias mal sinalizadas, falta de infraestrutura cicloviária... Cada motorista que tira fina de ciclista porque acha que este não pode andar na rua também matou João. Cada motorista de ônibus que passa em alta velocidade a nosso lado também matou João. Todas as pessoas que abrem a porta do carro sem olhar se vem alguém por trás também mataram João. Quem invade a ciclovia e ciclofaixa também matou João.
Sabe quem mais tem sangue nas mãos? Os vereadores que aprovaram o Plano de Mobilidade de Salvador sem levar em consideração os anseios e as necessidades da sociedade civil, que estudou, se dedicou, sugeriu, propôs e batalhou para que Salvador pudesse, como o Plano, se tornar uma sociedade mais amigável para pedestres e ciclistas. No entanto, tivemos de engolir um projeto raso, genérico, que sequer contempla, por exemplo, redução de velocidade nas vias de nossa cidade. Provavelmente teremos de engolir outros tantos acidentes, outros tantos assassinatos, outras tantas vidas levadas por um trânsito hostil e violento e por políticas públicas que se contentam com a redução no número de acidentes. Nenhuma morte no trânsito é aceitável!
João Evangelista, presente!
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