Principal estação de Salvador foi criada para 'preservar' Centro Histórico; escadas rolantes foram destaques após inauguração. Por João Gabriel Galdea
Publicado no Correio
Se o turismo tivesse como foco conhecer a alma das cidades, o maior ponto turístico de Salvador, sem dúvida alguma, seria a Estação da Lapa, que neste mês completou 40 anos de inauguração e início das operações. Mas o curioso é que, embora atualmente não tenha o status de área turística, a edição do Correio da Bahia de 8 de novembro de 1982 não descartou que o terminal terminasse um dia sendo local de visitação para quem quisesse, de fato, conhecer a essência da capital dos baianos.
“A Estação da Lapa, esta obra que os baianos já começaram a admirar, passa a ser agora o novo coração da cidade e seu cartão postal”, anunciava um trecho da reportagem intitulada ‘Lapa: o novo coração da cidade’.
A construção do equipamento durou pouco mais de um ano e tinha a perspectiva de “servir a 94 por cento da população de Salvador e modificar inteiramente os hábitos dos usuários de transporte coletivo da cidade”. Essa mudança foi iniciada numa quinta-feira, dia 18, quando a estação começou a operar com apenas cinco linhas.
“Os primeiros ônibus começaram a chegar à Estação da Lapa às cinco horas e até o meio-dia o movimento maior foi dos passageiros que vinham dos bairros, embora algumas linhas como Luis Anselmo e Mata Escura apresentassem um fluxo muito grande durante todo o dia. Além de Luis Anselmo e Mata Escura, estão funcionando as linhas de Boa Vista do Lobato, Marechal Rondon e Pau Miúdo. Em dezembro deverão estar funcionando na Lapa as 52 linhas programadas para aquele terminal”, explica o texto do dia em que o equipamento começou a receber veículos e, principalmente, gente.
A reportagem do dia 19 de novembro trazia como título ‘População de Salvador recebeu bem a estação’. O texto destacava que o funcionamento do terminal foi “inteiramente normal no seu primeiro dia” e que a reação dos passageiros “correspondeu às expectativas, apesar de alguns problemas causados pela falta de informação de alguns deles, principalmente quanto ao uso das escadas rolantes.”
Que escada é essa?
Novidade naquela época, as escadas rolantes atrapalharam alguns usuários, e a Prefeitura foi obrigada a colocar prepostos para explicar o modo de usar, ou melhor, o passo a passo para passar por elas. “Um grande grupo de funcionários da Prefeitura trabalha nos três pisos da estação, prestando informações aos usuários, tanto em relação às direções a seguir para atingir as saídas como na área interna do prédio. Junto às escadas rolantes também foram colocadas pessoas para ajudar àqueles que não sabem usar o equipamento”, comenta o texto.
Tratava-se de “um conjunto de onze modernas escadas rolantes semelhantes às que estão instaladas nas estações de metrô do Rio de Janeiro e São Paulo”.
Mas a surpresa de muitos não ficou restrita às escadas que ‘caminhavam’ para os usuários. A própria chegada à estação pegou muitos passageiros de surpresa: “Ao desembarcarem, muitos ainda não sabiam que o ônibus estava indo para a Estação da Lapa e saltavam curiosos olhando muito para os lados, mas, a partir das informações dos funcionários, caminhavam rapidamente para as escadas rolantes que dão acesso às ruas Coqueiros da Piedade, Carneiro Ribeiro ou 24 de Fevereiro”. Vale destacar que o Shopping Piedade, que tem uma ligação direta com a estação, só seria construído em 1985.
Centro preservado
Inaugurada por Renan Baleeiro, prefeito da época, com apoio do então governador Antonio Carlos Magalhães, a Estação Clériston Andrade – nome oficial dado em homenagem ao candidato à sucessão no Palácio de Ondina, morto de forma trágica durante a campanha na queda de um helicóptero, um mês antes – nasceu como “o maior terminal de transportes urbanos da América do Sul.”
“Está capacitada a operar 200 ônibus simultaneamente, correspondendo a 25 mil passageiros por hora, podendo chegar a 30 mil”, dizia um texto, enquanto outro dimensionava o uso de materiais para erguê-la: “As 7.600 toneladas de cimento utilizadas na sua construção dariam para construir um prédio de 200 andares com três apartamentos de três quartos.”
O equipamento começou funcionando das 5h à meia-noite, mas passaria depois a operar 24 horas por dia. “Isso já acontecerá em dezembro, antes do Natal. Nesse período também deverão começar a sair da Lapa ônibus circulares, que ligarão a Lapa às outras estações de transbordo de Salvador, como a Praça da Sé, Aquidabã, Campo Grande, Calçada e Terminal da França”, explicava uma reportagem.
Mas a grande mudança mesmo ocorreu em relação ao Centro Histórico, já que o terminal tirou a maior parte dos veículos grandes da região, especialmente na Praça da Sé, onde havia um terminal maior que o atual ao lado da Catedral Basílica. “Esta obra, absolutamente necessária à preservação do centro histórico de Salvador, custou 3 bilhões de cruzeiros. (...) Livres dos engarrafamentos do centro, os ônibus vão circular mais racionalmente, melhorando a oferta de viagens, reduzindo o tempo de percursos”. Quarentona, a Lapa continua pulsando como um coração, circulando por ela o que Salvador tem melhor: seu povo.
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