Projeto da prefeitura de Salvador tem sido alvo de debates entre a população. Por Daniel Genonadio
Publicado no A Tarde
Desde que surgiram as primeiras notícias sobre a construção de um túnel subterrâneo para pedestres para ligar o bairro de Nazaré ao bairro do Comércio, em Salvador, a população soteropolitana passou a fazer questionamentos acerca do investimento e da segurança do equipamento. Além destes, um debate promovido pela Associação Baiana de Impresa (ABI), nesta terça-feira, 28, também se desdobrou sobre outros temas e deu luz à realização da obra de infraestrutura.
O debate, intitulado “Túnel para pedestres: Qual o impacto na mobilidade do Centro Histórico?” contou com a presença do arquiteto e urbanista Paulo Ormindo, autor do projeto original do túnel, da engenheira de transportes e professora Ilce Marília Dantas Pinto, e do secretário de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) Luiz Carlos Souza (Republicanos).
No debate, Luiz Carlos detalhou as obras do túnel subterrâneo e respondeu questionamentos diversos de quem esteve presente, como historiadores, geógrafos, arquitetos e engenheiros. Vários temas foram levantados, como o componente histórico dos casarões e a adaptação do equipamento a cidade após as próximas décadas.
Estrutura e parceria com a CCR
O secretário apontou que a ideia é que o equipamento, que terá origem no Campo da Pólvora, seja administrado em parceria com a CCR Metrô Bahia, que administra o sistema metroviário.
De acordo com ele, ainda não há uma definição e as conversas com a concessionária estão em estágio inicial. No entanto, Luiz Carlos revelou a sua expectativa para que a CCR seja favorável a ideia, já que seria beneficiada. Apesar disso, ressaltou que a prefeitura tem capacidade de administrar o equipamento.
"Já iniciamos diálogo com a CCR, ainda de forma tímida. Se a CCR não quiser adotar, a gente adota tranquilamente... A passagem não terá qualquer custo ao usuário de Salvador. Pensamos no cenário de fazer a obra e entregar ao metrô. Acho que eles vão se interessar. Não haverá nenhum custo extra para o usuário (que já está no metrô). Para quem está vindo da rua não haverá nenhuma cobrança". declarou Luiz Carlos.
O túnel subterrâneo de 960 metros terá cobertura metálica com material transparente, além de esteiras rolantes durante a maior parte do seu percurso. São quatro esteiras de 50 metros e cinco de 90 metros. Ambas nos dois sentidos. Entre elas, há um espaço para quem queira só caminhar. O restante do percurso conta com estações e intervalos entre esteiras.
A expectativa da Prefeitura de Salvador é reduzir o trajeto de 45 minutos para 11 minutos. Maiores detalhes da estrutura do túnel foram informados em reportagem anterior do Portal A TARDE.
Críticas
Um dos maiores temores da população, conforme comentários nas redes sociais, é a segurança do túnel, em meio a bairros considerados perigosos. De acordo com Paulo Ormindo, um dos objetivos da construção é justamente revitalizar e auxiliar em um maior integração da população ao Comércio e a Baixa dos Sapateiros, bem como oferecer um novo acesso ao Pelourinho/Centro Histórico.
"Essa área da cidade (Centro Histórico e Comércio) está em ruínas. Sempre tivemos elevador, plano inclinado, mas não mais uma nova obra de articulação. Vai nos permitir articular três níveis da cidade (baixa-Comércio), (média-Baixa dos Sapateiros) (alta-Nazaré) e vai acomodar outros modais: sistema hidroviário, ônibus e metrô", falou o professor.
Já o secretário de Infraestrutura alegou, mais uma vez, que utilizar o túnel é mais seguro do que outros meios de locomoção como o ônibus ou até mesmo andar nas avenidas da cidade. "Você tem uma segurança e o monitoramento. Tem o controle do indivíduo dentro do equipamento. Ele só vai ter uma entrada e uma saída. Eu não teria nenhum problema em utilizar um equipamento desse", afirmou.
Outra crítica comum por parte da população e por políticos de oposição a gestão municipal é o alto custo da obra, que conta com uma previsão de quase R$ 300 milhões. Luiz Carlos indicou que o valor pode ter uma diminuição após a conclusão do projeto executivo, que deve acontecer nos próximo quatro meses.
"O que temos é uma ordem de grandeza de R$ 290 milhões. Você só tem como precificar quando tem todos os elementos", disse o secretário.
Contraponto
Presente no evento para realizar um contraponto e levantar possíveis problemas do projeto, a professora Ilce Marília afirmou que não tem um único ponto de vista e não é contra o projeto. Para ela, o que precisa existir é uma maior discussão, como se existe a necessidade da construção diante das necessidades da população.
“A gente tem que avaliar os vários critérios e ter uma posição de compromisso. Sou moradora da Saúde, nasci no Carmo e saí da Pituba para voltar ao Centro Histórico. Eu vi a degradação da Baixa dos Sapateiros e dá pena. A primeira coisa a se pensar é: esse projeto tem que nascer interligado a outros transportes. Transporte não é fim, é meio. Quem a gente quer deslocar? De onde para onde? Hoje a Baixa dos Sapateiros não tem demanda. As pessoas irão por lá para o Centro Histórico? No momento não tem demanda, a gente tem que induzir demanda e isso que me preocupa", questionou.
Em resposta, Luiz Carlos afirmou que é possível construir essa demanda e que hoje a população busca outros meios para chegar aos destinos do túnel subterrâneo por falta de opção.
"Tendo em vista os projetos que estamos colocando em prática e o fluxo de turismo, isso tem uma demanda interessante, que está reprimida em função da falta de modal. Uma conexão do metrô com a cidade baixa. Temos diversos eventos no Pelourinho e as pessoas não vão por não ter onde estacionar", exemplificou.
Já aprovado pela Câmara Municipal de Salvador, a construção do túnel passou pela fase do anteprojeto, quando foram identificadas todas as condições para a execução, e seguiu para a realização do projeto executivo (com o custo de R$ 5,8 milhões). Após o início da construção, a previsão é de conclusão em 24 meses.
Comments