Poder 360, 12/11/2020
O governador Rui Costa (PT) assina nesta 5ª feira (12.nov.2020), às 10h, o contrato para a construção da ponte Salvador-Itaparica. O empreendimento ficará a cargo de 1 consórcio de 3 empresas chinesas: China Communications Construction Company, CCCC South America Regional Company e China Railway 20 Bureau Group Corporation e custará R$ 7,7 bilhões. O governo estadual entrará com R$ 1,5 bilhão e o grupo chinês com o restante.
Com 12,4 km de extensão, a ponte terá acessos em Salvador, por túneis e viadutos, e em Vera Cruz, com a ligação à BA-001.
A concessão será via PPP (Parceria Público-Privada) com duração de 35 anos, sendo os 5 primeiros para conclusão projeto e construção, que gerará 7.000 empregos. Nos 30 restantes, o consórcio explorará pedágio de R$ 45 para carros. Eis a apresentação feita em outubro de 2019 na B3, Bolsa de Valores de São Paulo, com detalhes sobre o empreendimento.
Segundo o governo do Estado, a ponte beneficiará 24 cidades ao permitir o encurtamento da distância e redução do tempo de viagem em mais de 40%, pois dispensará o contorno de 100 km pela BR-101 para acessar a capital baiana. Outros 52 municípios devem ter a distância reduzida de 20% a 40% da atual.
Será preciso, porém, mais investimento para garantir, de fato, o escoamento até o litoral sul do Estado. Há 31 km de Itaparica até a BA-001, estrada que percorre a costa até o Espírito Santo. Em entrevista ao Poder360, o secretário de infraestrutura do Estado, Marcus Cavalcanti, disse que essa ampliação só será necessária a partir do 7º ano de contrato.
“Na ponte, você sai de Salvador, chega na Ilha de Itaparica, pega uma pista dupla nova, não é a pista existente. Continua até chegar no final da ilha. Esse é o investimento que está previsto. Nós temos que dar continuidade ao projeto a Ilha de Itaparica, mas, no nosso estudo de tráfego, precisaríamos ter investimento nesse setor a partir, talvez, do 2º ano de operação”, afirmou. O custo estimado é de mais R$ 1 bilhão.
“Nós já temos estudos para continuar isso através de 1 outro processo licitatório, que é a duplicação do trecho chamado entre a Ponte do Funil, que a ponte que liga Itaparica com o continente lá do outro lado até a BR-101”, completou.
Para o ex-governador do Estado César Borges, a obra trará desenvolvimento à região se forem contempladas ampliações ao sistema rodoviário da região: “não é 1 projeto que fica apenas na ponte, vai ser preciso 1 investimento bem maior chegando até a R$ 10 bilhões”.
O economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, disse que projetos grandes como o da ponte na Bahia, devem ser tratados com muito cuidado. “Há histórico de atrasos, de sobrepreço e de má relação entre o custo da obra e o benefício que proporciona“, afirmou. Ele ressalvou não conhecer em detalhes o projeto da ponte. Também disse que a ligação de Salvador a Itaparica “faz sentido“.
O Ministério da Infraestrutura não se pronunciou sobre a obra por ser vinculada só ao governo do Estado. O Poder360 apurou que há preocupação com o porte, que seria grande até mesmo se estivesse no portfólio do governo federal. Quanto maior o escopo de 1 projeto, maiores as chances de problemas.
TRIBUNAL DE CONTAS QUESTIONA
Auditores do Tribunal de Contas do Estado relataram sobrepreço de R$ 241,4 milhões no valor do contrato. Segundo reportagem do Bahia Notícias, os autores consideram haver custo “excessivo frente ao mercado” e houve pedido de suspensão da licitação. O pedido de medida cautelar ainda não foi analisado pelo plenário da Corte.
O governador Rui Costa chamou a avaliação de “piada de mau gosto”. “Infelizmente existem pessoas que torcem para o desenvolvimento da Bahia, mas tem outros que tentam atrapalhar o tempo todo. É 1 projeto grandioso e de repercussão internacional. As pessoas precisam ter noção do que vai ser feito na Bahia. Isso é um projeto de padrão internacional. Treze quilômetros. É uma obra que vai entrar no portfólio internacional”, argumentou na 2ª feira (9.nov).
O Poder360 procurou o conselheiro João Bonfim, relator do processo, para comentar o caso. Até a publicação desta reportagem, não houve resposta.
USO DE BALSAS PARA TRAVESSIA
Atualmente, a travessia pode ser feita por balsas “ferry boats”. Ao Poder360, o secretário Marcus Cavalcanti afirmou que a ampliação dessa estrutura em substituição ao projeto poderia engarrafar a Baía de Todos os Santos: “Nós temos 8 balsas com capacidade máxima de 3.000 carros por dia. Estou trabalhando na ponte com 20.000 veículos equivalentes no 1º ano. E 90.000 no último. Para eu atingir esse volume, teria que ir para 40 balsas”, declarou.
Lembrou ainda que elas atendem, fundamentalmente, carros. César Borges concorda, o sistema de balsas “não é 1 sistema funcional de carga. É muito mais de veículos leves”, diz.
O ex-governador diz ainda que defende o projeto da ponte: “Acho que uma hora terá que ser feito, mas tem que ser na sua totalidade porque se for feito em pedaços, não terá o efeito desejado”, conclui.
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