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A (lenta) chegada do metrô a Salvador

Em 1985, a Conder elaborou a primeira proposta para a linha do metrô, que ficaria entre a Estação da Lapa e o Bairro de Pirajá. Por Gina Marocci


Publicado no LeiaMaisBa

Para falar do metrô de Salvador, numa primeira vista, não precisaríamos de muitas linhas, contudo, em vários momentos da história da nossa cidade houve ideias para a implementação dessa modalidade de transporte coletivo. Portanto, não bastaria falar sobre a demora da chegada do metrô, ou de como ele precisa ser ampliado com urgência. Tudo isto está claro, mesmo para os que não utilizam o sistema de transporte público de Salvador.

É importante observar que o metrô faz parte de um sistema ferroviário, assim como o trem suburbano, o VLT e o monotrilho. Vimos que as primeiras linhas de metrô começaram a funcionar ainda no século XIX, e que Londres foi a cidade pioneira a implantar essa modalidade de transporte público em 1863, ou seja, há exatamente 158 anos. Naquela época, Londres era a cidade mais populosa do mundo, com cerca de 2,5 milhões de habitantes, e em 1920 havia chegado a mais de 7 milhões.

Em relação ao Brasil, daremos um salto até a segunda metade do século XX. A década de 1970 foi marcada por uma intensificação da urbanização no Brasil e a consequente criação das nove primeiras regiões metropolitanas do país, ou seja, as de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém e Rio de Janeiro.

Com a criação da Região Metropolitana de Salvador, em 1973, a discussão sobre a metropolização e a integração dos municípios a ela pertencentes modificou a forma de planejar a cidade, agora, inserida num espaço de natureza multinuclear e de segurança nacional. Nesse contexto, as contribuições do Plano de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Plandurb) e do Estudo de Uso do Solo e Transportes (EUST) foram importantes para a construção de um entendimento da estrutura urbana como um sistema urbano-regional e o transporte de massa como elemento estruturante dele.

No início dessa década, o sistema ferroviário brasileiro era constituído pelas linhas férreas regionais, pelos trens suburbanos e por linhas de bondes elétricos.

No Brasil, o trem do subúrbio começou a rodar na década de 1860, na mesma época dos trens nas maiores cidades europeias e americanas, mas o metrô demorou, e demorou muito! São Paulo inaugurou sua primeira linha em 1974. Nesta década, a cidade de São Paulo tinha quase 6 milhões de habitantes.

O Rio de Janeiro foi a segunda cidade brasileira a implantar o metrô, isto em 1979, quando a cidade possuía mais de 5 milhões de habitantes.

Publicidade da inauguração do metrô de São Paulo

A década de 1980 foi profícua para algumas capitais que receberam as primeiras instalações de metrôs. Assim, Recife e Porto Alegre, com cerca 1,2 milhão de habitantes, em 1985, Belo Horizonte com um pouco mais de 1,8 milhão de habitantes (1986) e Teresina (1989), que contava com menos de 400 mil habitantes, foram beneficiadas com as primeiras linhas.

Na mesma década, Salvador somava mais de 1,5 milhão de habitantes, portanto, uma população maior que a Recife e de Porto Alegre, mas o metrô não veio.

Manteve-se, em Salvador, o investimento na ampliação da frota de ônibus. Em 1982 foi inaugurada a Estação da Lapa, primeira estação de transbordo, que liberou a Praça da Sé da maior parte dos pontos finais de linhas municipais para melhorar o trânsito no centro antigo.

Na primeira metade dessa mesma década, a Prefeitura Municipal tinha uma proposta de implantar um sistema de transporte de massa sobre trilhos nas avenidas de vales, especificamente para ligar a Avenida Bonocô à região do Iguatemi, com o chamado bonde moderno, o VLT. Algumas obras foram realizadas na cidade, mas o projeto não avançou.

Em 1985, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) elaborou a primeira proposta para a linha do metrô, que ficaria entre a Estação da Lapa e o Bairro de Pirajá em uma cota mais elevada que o projeto atual. Pensou-se, também, numa linha subterrânea entre a Calçada e o Campo Grande, mas a ideia não foi adiante.

Na década de 1990, a grande novidade em Salvador foram os ônibus articulados, os famosos minhocões, que saíram de cena em menos de 10 anos (agora vão voltar como BRT). Além disso, em 1997, iniciaram-se os primeiros procedimentos de definição do traçado do metrô, com base em estudos que indicaram quatro fluxos importantes: da BR 324; da orla do subúrbio; da orla atlântica e da Paralela.

No planejamento da construção, a Linha 1 fora dividida em quatro tramos: Lapa-Acesso Norte; Acesso Norte-Pirajá; Pirajá-Pau da Lima e Pau da Lima-Cajazeiras. Muitas discussões, novas pesquisas, mas o metrô ainda estava longe de se tornar realidade.

O século XXI começou com novas promessas eleitorais e reajustes escandalosos da verba para construção da Linha 1. Em 2001, Brasília inaugura o seu metrô e em 2012 foi a vez de Fortaleza. Nesta primeira década do novo século, Salvador já havia ultrapassado 2,5 milhões de habitantes.

As obras da Linha 1 passaram por períodos de paralisação por conta dos atrasos na liberação dos recursos, mas, finalmente, em 2014, foram inaugurados os 6 km mais caros do menor mini metrô do Brasil. Por isso ele foi apelidado pela população de metrô calça curta! Atualmente, o metrô de Salvador possui duas linhas e tem 33 km de extensão.

Foi uma conquista demorada, contudo, Salvador fica atrás de muitas capitais quando falamos da integração e da diversidade de modais de transporte de massa. Enquanto ocupa a terceira posição em população, sua rede ferroviária encolheu com a desativação do trem do subúrbio, transporte também utilizado por moradores e micro produtores rurais de Simões Filho que vendem gêneros alimentícios na Cidade Baixa.

Linhas do metrô em Salvador

A oferta do VLT, que será um monotrilho, não resolverá esse problema, afinal, essas cargas serão aceitas nos vagões? Outra coisa, vou confessar a vocês que já tive pesadelos com esta estrutura passando pelo Terminal da França e desqualificando mais ainda o belíssimo Bairro do Comércio, patrimônio arquitetônico e urbanístico do século de três séculos!

O VLT deveria ser discutido, outras propostas analisadas, como, por exemplo, o trajeto entre a Ribeira e o Comércio, ou a sua implantação em avenidas de vales.

Os ascensores verticais são outro modal que deveria ter sido explorado desde sempre. Imaginemos o Bairro de Brotas, sua localização e relação com várias avenidas de vales importantes o colocariam como ponto de interligação entre vários bairros, com o metrô e com linhas de ônibus. A redução do tempo de deslocamento seria grande!

Acreditamos que o metrô e o VLT não resolvem tudo e que é necessário discutir com estudiosos e usuários as melhores alternativas para cada região da cidade. O que sentimos é que a cidade está cada vez mais cortada por estruturas de concreto milionárias, erguidas com a justificativa da melhoria da mobilidade urbana, mas ela está realmente acontecendo?

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Para saber mais

BRASIL. Ministério do Planejamento. Condicionantes institucionais aos investimentos em infraestrutura no Brasil: sistema metroviário de Salvador e Lauro de Freitas. Relatório de Pesquisa. Rio de Janeiro: IPEA, 2017.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES DE PASSAGEIROS SOBRE TRILHOS (ANTPTrilhos). Lista de sistemas ferroviários urbanos no Brasil.

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